27 de novembro de 2012

Tradição no bairro da modernidade


             Para quem não aguenta mais a "americanização" que o Rio, e particularmente a Barra, vêm sofrendo, a recente inauguração de uma loja sem o glamour que costuma caracterizar as lojas do bairro surge como um colírio aos olhos. E, por que não, também como sonho de consumo de vários moradores. Inaugurada há um mês no Barra Garden, a Oficina do Botão vem atraindo clientes simplesmente pelo o que oferece: todos acessórios para o velho e bom futebol de mesa, popularmente conhecido como jogo de Botão.
            Para entender o fenômeno que esta loja pode causar no bairro, é fundamental ficar por dentro da pesquisa realizada pela Oficina do Botão, em parceria com a Liga de Futebol de Mesa do Município do Rio de Janeiro (LFMRJ), para descobrir os focos de concentração de botonistas. Encabeçando a lista, Tijuca, Vila Isabel e adjacências, logo abaixo, a Barra. “A pessoa foi evoluindo e vindo para a Barra a procura de lugares mais seguros”, diz Adriano Moutinho, dono em sociedade de Marcelo Coutinho, da Oficina. Outra forma eficaz de compreender o fenômeno é perguntando para qualquer homem acima de 30 anos se ele jogava Botão. A resposta será um sonoro “sim” acompanhado de um brilho no olhar. Muitos já não tem suas coleções, mas se prontificarão a lhe contar como era esse tempo. “A maioria das crianças que joga hoje é porque os pais ou avos ensinaram”, afirma Adriano, que começou a jogar quando era moleque por influência dos irmãos mais velhos.
            Reconhecido como esporte em 1989 pelo extinto Conselho Nacional de Desportos (CND), o Botão era jogado nas ruas e praças e todo menino tinha seu time. Inicialmente os “jogadores” eram aqueles antigos botões de capas de chuva e de vestidos, o que explica o nome, ou antigas fichas de ônibus. Mas também fazia parte da diversão confeccionar o próprio time, e ai valia usar ossos, marfim, casca de coco e galalite. Tirando os de coco, os outros hoje são objetos de colecionador, chegando a valer 200 dólares. Atualmente, os botões são feitos de acrílico ou madrepérola, e é possível encontrar de todos os clubes e seleções.
            A criação deste esporte genuinamente brasileiro é um campo onde só existem chutes, ninguém sabe precisar a data, mas já era de se esperar que fosse emplacar. Se o futebol é a paixão nacional, imagine tê-lo ao alcance das mãos, onde você não é só o dono da bola, mas do time e do campo também! "Jogava muito sozinho. Armava o time e fazia campeonatos, dava vida ao botões, então o Botafogo era sempre campeão", lembra Zanon Palitot, alvinegro convicto e professor de Historia, que defende a tese que o jogo de Botão seja contemporâneo ao próprio futebol, uma forma popular de reproduzir o campo, restrito a elite de então.
            Só que nem tudo era tão fácil. Para adquirir uma maleta, por exemplo, o carioca precisa “importar”  uma da Bahia. Foi quando, há 11 anos, Adriano começou a confeccionar goleiros e maletas. Depois partiu para os botões, e no melhor estilo “sacoleiro”, levava toda produção para os campeonatos e vendia ali mesmo. Hoje, são duas lojas especializadas, a da Barra e outra no Iguatemi Shopping.
            Mais que brincadeira de criança, o futebol de mesa possui Liga profissional, federações em vários estados e três modalidades: carioca, paulista e baiana. A mais praticada no Rio é a ultima, e também a mais difícil. Cada jogador só pode dar um toque. Na regra carioca, valem três e na paulista, doze. Para quem já tem seu time, mas não onde jogar, a mesa da Oficina pode ser alugada por 10 ou 30 minutos. Para quem quer começar, o kit básico inclui um par de times, goleiros, traves e palhetas, bolinhas e a mesa. É uma tradição que merece ser perpetuada.


ops, não lembro o ano

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