4 de dezembro de 2012

Segunda Intifada - A Verdade, Parte 1

Você realmente sabe como tudo começou?
Tem certeza?
Quer pensar um pouquinho? Não. Ok. Então, você sabe que o então presidente da OLP Yasser Arafat já tinha tudo armado com seus companheiros antes mesmo de encontrar o ex-presidente dos USA Bill Clinton e o ex´Primeiro Ministro Ehud Barak, no ano 2000, né?
Parece mentira, né? Mas é verdade. O pior é que é verdade. Mas sabe o que, vou deixar Mosab Hassan Yousef, filho do xeique Hassan Yousef um dos fundadores do Hamas, contar um pouquinho dessa história:

  "A Conferência de Cúpula de Camp David entre Yasser Arafat, o presidente americano Bill Clinton e o primeiro-ministro israelense Ehud Barak terminou em 25 de julho de 2000. Barak ofereceu a Arafat cerca de 90% da Cisjordânia, toda a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental como capital de um novo Estado palestino. Além disso, um novo fundo internacional seria criado para indenizar os palestinos pelas propriedades que haviam perdido. Aquela oferta de "terra em troca de paz' representava uma oportunidade histórica para o sofrido povo palestino, algo que poucos teriam ousado imaginar que fosse possível. Mesmo assim, não era suficiente para Arafat. O líder da ANP se tornara extraordinariamente rico como símbolo internacional do sofrimento. Ele não estava disposto a abrir mão daquele status e assumir a responsabilidade de construir uma sociedade que funcionasse. Então, insistiu para que todos os refugiados voltassem para as terras que possuíam antes de 1967, uma condição que ele tinha certeza de que Israel não aceitaria. A rejeição da oferta de Barak por parte de Arafat foi uma catástrofe histórica para seu povo, mas o chefe da Autoridade Nacional Palestina voltou para o seio de seus correligionários linha-dura como um herói que desdenhara o presidente dos Estados Unidos, alguém que não havia recuado e feito concessões, um líder que enfrentara o mundo inteiro de maneira obstinada.
  Arafat foi para a televisão e todos o viram falar do seu amor pelo povo palestino e da sua dor por milhares de famílias que viviam em meio à sordidez e à miséria dos campos de refugiados. Naquela época, eu acompanhava meu pai nas viagens e nas reuniões com Arafat e comecei a ver com meus próprios olhos como aquele homem amava a atenção da mídia. Ele parecia adorar ser retratado como uma espécie de Che Guevara palestino, um indivíduo à altura de reis, presidentes e Primeiros-ministros, e deixou claro que desejava entrar para a história como um herói.
  De fato, Arafat recebeu as chaves para promover a Paz no Oriente Médio junto com uma soberania real para o povo palestino, mas jogou tudo fora. Por isso, a corrupção silenciosa continuou a existir. E o clima, aparentemente tranquilo, logo ficaria tenso. Para Arafat, sempre parecia haver algo a ganhar se os palestinos estivessem sofrendo e sangrando. Outra intifada derramaria mais sangue e faria as câmeras dos noticiários do Ocidente se voltarem de novo para aquela região.
  Na noite de 27 de setembro de 2000, meu pai bateu à minha porta e perguntou se eu podia levá-lo à casa de Marwan Barghouti na manhá seguinte, após a prece da alvorada. - O que está acontecendo? - perguntei ao meu pai. - Sharon tem uma visita programada à Mesquita de Al-Aqsa amanhâ, e a ANP acha que será uma boa oportunidade para iniciar um levante. Um levante? Será que eles estavam falando sério? Os líderes da Autoridade Nacional Palestina, que mandaram meu pai para a prisão, estavam pedindo que ele os ajudasse a iniciar uma outra Intifada. Eles sabiam que o Hamas, como um pugilista esgotado estava quase caído na lona, inconsciente. Queriam que meu pai o levantasse, jogasse água em seu rosto e o mandasse pàra outro round a fim de que a ANP pudesse levá-lo a nocaute diante de uma plateia exultante.
  Até os líderes do Hamas, cansados de anos de confito, falaram para meu pai ficar alerta. - Arafat só quer nos usar como combustível para sua fornalha política - disseram. - Não vá longe demais com essa nova intifada que ele quer promover.No entanto, meu pai entendeu a importância daquele gesto. Se ele ao menos não aparentasse estar colaborando com a ANP simplesmente apontariam pera o Hamas, nos culpando por perturbar o processo de paz.
  A Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha foram construídos sobre os escombros e destroços de dois templos judaicos, o Templo de Salomáo, do século X a.C., e o Templo de Herodes, o Grande, existente até o início da era cristã. Portanto, é com razão que algumas pessoas descrevem aquela colina rochosa como os 14 hectares mais disputados da Terra. O lugar é sagrado para as três grandes religiões monoteístas do mundo. No entanto, tomando por base uma perspectiva científica e histórica, também se trata de um sítio arqueológico de enorme importância, mesmo para o ateu mais convicto. Nas semanas anteriores à visita de Sharon, o Waqf, a entidade islâmica que administra aquele local, interditou por completo qualquer inspeção arqueológica do Monte do Templo por parte da Autoridade de Antiguidades de Israel. Depois, ao realizar obras de construção de novas mesquitas subterrâneas no local, levou para lá equipamento pesado de escavação. Em Israel, o noticiário noturno exibiu imagens de trarores, escavadeiras e caminhões trabalhando no subsolo e na superfície do sítio. Ao longo de várias semanas, caminhões transportaram cerca de 13 mil toneladas de cascalho do complexo do Monte do Templo para os depósitos de lixo de Jerusalém. Para muitos israelenses, estava claro que a intenção era transformar todo o complexo de 14 hectares em um sítio exclusivamente muçulmano, eliminando qualquer vestígio, resquício e memória do seu passado judeu. Isso incluía a destruição de qualquer achado arqueológico que representasse uma prova daquela história. A visita de Sharon tinha como objetivo enviar uma mensagem silenciosa, mas clara, aos eleitores israelenses: "Vou pôr fim a essa destruição desnecessária." Ao planejar a visita, os assessores de Sharon receberam garantias do chefe da segurança palestina, Jibril Rajoub, de que não haveria problemas, contanto que ele não pusesse os pés em uma mesquita.
  Era uma manhã tranquila e meu pai e eu chegamos ao local alguns minutos antes de Sharon que apareceu durante o horário normal de visitas turísticas, acompanhado de uma delegação do Partido Likud e cerca de 1.000 policiais antimotim. Ele chegou, deu uma olhada e foi embora. Não disse nada. Nunca entrou na mesquita. - O que aconteceu? - perguntei. - Você não começou a intifada. - Ainda não - ele respondeu. - Mas liguei para alguns ativistas do movimento estudantil islâmico e pedi que me encontrassem aqui para um protesto. - Mas não aconteceu nada em Jerusalém, e agora você quer fazer uma manifestação em Ramallah? Isso é loucura - eu disse. - Temos que fazer o que for necessário. A Mesquita de Al-Aqsa pertence aos muçulmanos e Sharon não precisava ir até lá. Não podemos permitir isso. Fiquei me perguntando se ele estava querendo convencer a mim ou a si mesmo. 
  A manifestação em Ramallah foi tudo, menos um espetáculo dramático de combustão espontânea. Mal amanhecera e as pessoas circulavarn pela cidade como de costume, se perguntando o que estava acontecendo com aqueles estudantes e integrantes do Hamas que não pareciam sequer saber o motivo do protesto. Vários homens carregavam megafones e faziam discursos. O pequeno grupo de palestinos que se reunira em volta deles às vezes começava a cantar e a gritar. No entanto, a maioria das pessoas não parecia estar profundamente interessada. Nos últimos tempos, a situação estava bem mais calma nos territórios palestinos. A rotina da ocupação era sempre a mesma e os soldados israelenses haviam se tornado parte da paisagem. Os palestinos podiam trabalhar e ir à escola em Israel. A vida noturna de Ramallah estava prosperando, por isso era difícil imaginar por que aqueles homens estavam tão exaltados.
   Na manhã seguinte, um grande número de manifestantes palestinos atirou pedras e entrou em confronto com a polícia antimotim de Israel perto do local da visita de Sharon. Das pedras, passaram a atirar coquetéis molotov e, depois, abriram fogo com fuzis. A polícia usou balas de borracha e, segundo relatos, munição de verdade para dispersar os manifestantes. Aquilo era exatamente o que a ANP esperava que acontecesse.
  Arafat e os outros líderes da ANP estavam determinados a iniciar outra intifada. Passaram meses planejando tudo aquilo, mesmo durante a conferência com Barak e o presidente Clinton em Camp David. Estavam simplesmente esperando um pretexto adequado, e a visita de Sharon acabou sendo uma desculpa perfeita. Depois de dois falsos inícios, a Intifada de Al-Aqsa começou para valer, os conflitos na Cisjordânia e em Gaza voltaram a pegar fogo. Principalmente em Gaza.
  Lá, o Fatah organizou manifestações que resultaram na morte de um garoto de 12 anos chamado Mohammed AL-Dura, transmitida pela televisão em todo o mundo. A cena comovente foi filmada por um operado de câmera palestino que trabalhava para uma emissora de televisão pública francesa. Em poucas horas, o vídeo havia percorrido o mundo e provocado a fúria de milhões de pessoas contra a ocupação israelense. Nos meses seguintes, porém, haveria uma acalorada polêmica internacional sobre aquele episódio. Alguns alegavam ter provas de que a morte do garoto teria sido ocasionada por disparos feitos por palestinos, outros continuavam a culpar os israelenses. Havia até quem dissesse que a filmagem fora um golpe de propaganda cuidadosamente encenado. Como não mostrava o garoto sendo alvejado nem seu cadáver, muitos suspeitavam de uma trama propagandística arquitetada pela OLP. Se isso for verdade, foi uma trama brilhante e eficaz."
(Trecho do livro O Filho do Hamas)



Ministro das Comunicações da OLP




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