Como no Brasil “promessa é dúvida”, a arena das lutas do VI UVF - que prometia um octagon nos moldes do Ultimate Fighting Championship (UFC) - acabou mesmo sendo o velho e bom ringue do Santa Rosa, salvador da pátria de várias competições. Para um evento de nível, como o UVF se propõe a ser, esta realidade parecia surreal.
Numa prova concreta de o que todos já previam, logo na primeira luta, o ringue não suportou. Na primeira tentativa de levar para o chão os dois foram arremessados para fora, com o obeso Geza caindo por cima. Num reflexo, Carlão colou o queixo no peito evitando o que poderia ter sido um acidente de graves consequências. Para não esquecer o tombo, o brasileiro fez suas três lutas com as costas e o cotovelo esfoliados. A luta teve que ser interrompida para repor e reforçar as cordas.
Quanto a este “pequeno detalhe”, a verdade é que não dava para acreditar que o evento exibia no palco da maior casa de shows da América Latina um simples ringue, completamente desnivelado e que não suportava o peso dos lutadores. Pior ainda era acreditar na história - verídica - de o porque da situação. O caminhão que trazia de Campos, Rio, o octagon alugado pela produção do evento quebrou e, incrivelmente, perdeu-se na Capital não encontrando o Metropolitan.
Em número de quedas, Ebenezer Fontes foi insuperável. Seu confronto com Randelman foi um cai e sobe do ringue interminável. Isso sem contar que, na maioria dos combates, os lutadores ficavam com parte do corpo mais para fora que dentro do ringue, tendo que ser escorados pela multidão que se aglomerava na área que, teoricamente, deveria ser restrita à Imprensa.
Pouco antes do início desta luta, Vander (Jiu-Jitsu) e Pinguim (Luta Livre) se estranharam e começaram uma briga que, se estendeu pelo estacionamento e só teve fim na academia do professor de Vander. Para João Alberto Barreto, organizador do evento, essas atitudes “eram normais”, e a falta do octagon em nada atrapalhava as lutas nem instigava a torcida. “No meu tempo os ringues eram assim”, ressaltava, ao mesmo tempo em que rolava a confusão envolvendo Mark Coleman.
Nos bastidores, antes do torneio começar, Jorge Pereira (Jiu-Jitsu) e The Pedro (Luta Livre) já haviam protagonizado o primeiro Vale-Tudo de graça da noite. Jorge chegou cobrando de The Pedro quando seria a vez deles se enfrentarem, o que acabou acontecendo ali mesmo. Para finalizar com chave de lata, Alessandro Alves e Beto quiseram resolver no mano-a-mano as desavenças entre seus professores, Rickson Gracie e Hugo Duarte, respectivamente. As provocações começaram na entrada, mal-estar abafado por Hugo. Mas antes da final, não teve santo que os fizesse comportarem-se. Um extintor de incêndio teve que ser usado para pô-los em seus lugares. Atitudes como as desses “atletas” devem ser repudiadas, visando o crescimento das duas Artes.
Mas a noite do VI UVF começou diferente, com a disputa entre oito card girls. As garotas, acostumadas a uma simples volta anunciando os lutadores, eram convocadas pelo locutor, vermelho e com as veias saltando, para desfilar no ringue numa narração pra lá de entusiasta, atiçando mais ainda o público 90% masculino. A escolha da Miss Universal,. realizada antes da final, acabou anunciando também o campeão do evento. Enquanto Amanda Lee, escolhida a nº 1, desfilava com a brasileira, Cláudia “Xica da Silva”, a nº 2, empunhava a americana
Texto publicado na revista Tatame, Ano 3 # 20, Abril de 1997. Reportagem sobre o UVC VI
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