VOU DAR, PORRADA
Entre muitos socos e outros tantos, Carlos Maçaranduba se queixa à um padre de não ter mais adversários no mundo para ele. Seu fiel escudeiro, Montanha, providencia um lutador à altura: Vítor Belfort. Resultado: muito riso e mais um quadro pronto – o qual acompanhamos a gravação - para ir ao no programa Casseta e Planeta Urgente.
Com certeza muitos que estão lendo esta matéria se identificam ou conhecem alguém que parece com o personagem que toda terça-feira à noite bate ponto e porrada na tela da Globo. “Foi a junção do máximo de boçalidades num cara só. Ele é o estereótipo desse cara, obviamente dentro do humor. É tão absurdo que é uma história em quadrinhos com cachorro voando a cem metros; é quase um desenho animado. A violência vira uma coisa de “Bip Bip”, diz o humorista Cláudio Manoel, intérprete do personagem.
Mas nem sempre o Maçaranduba foi o espelho dos praticantes de Artes Marciais. O machão acima de qualquer suspeita – senão, “vai ter porrada” – foi criado pela turma do extinto jornal Planeta Diário e atendia pelo nome de Maçaranduba, o fodão do Bairro Peixoto. Em 97 é que o personagem que vemos hoje criou forma num quadro chamado “Diário de um macho” que os humoristas criaram em cima da notícia de um quebra-pau que teve num jogo. As semelhanças são evidentes: é o porradeiro, o lutador; não só de Jiu-Jitsu, tranqüiliza Cláudio Manoel. “Maçaranduba é um bobalhão, um cara infantil que tem muita empatia com as crianças e adolescentes, de onde vem o grande sucesso do personagem”, acredita Márcio Trigo, diretor do programa.
E realmente, feliz ou infelizmente, o personagem é um estereótipo do atual lutador, e não dá para assistir as caras e bocas, levantadas de sobrancelha e franzidas de testa do personagem sem lembrar de algum conhecido. Cláudio diz que para dar vida ao personagem com o vocabulário típico, eles costumam conversar com lutadores e com a figuração, ler e procurar na Internet, já que nenhum deles pratica artes marciais. Desculpe, nenhum não, um se safa. “O Marcelo (Madureira) fez Judô há muito tempo. Mas era um vexame, o cara era aquele que apanhava do irmão caçula. Ele convenceu todo mundo a ir na Gama Filho assistir a uma luta. Eu sei que quando sortearam as chaves, o Marcelo pegou um cara chamado Venda, campeão da categoria. Parecia desenho animado, o cara acabou com ele em milésimos de segundo. Foi muito divertido”, recorda Cláudio.
Quanto as duas artes marciais associadas à seu personagem – Jiu-Jitsu e Vale Tudo -, Cláudio considera a Arte Suave um fenômeno que cresce muito rápido, sinal que as pessoas querem; do Vale Tudo, uma crítica: “Tá muito chão, assistir é foda. Quando vira espetáculo, você não tá agradando mais só ao cara que é do ramo, você tá atingindo mais gente. Eu sei que é técnica, a beleza da estratégia, mas tem uma hora que não acontece nada. Eu achava o Rickson o máximo. No Boxe, por exemplo, gosto do peso pesado. Não gosto daqueles pesos leves, é bobagem minha, mas tenho a impressão que os caras tão lutando por um prato de comida, fico com pena eles. É a mesma coisa no Vale Tudo, gosto quando a luta é espetáculo, quando é travada demais me enche o saco”.
Com relação ao evento em si, surpresa. O casseta é do time. “Acho legal e vou te dizer porque. A sociedade sempre teve e sempre terá esse tipo de duelo, de desafio que passam pela supremacia física. Não adianta você achar que um dia todos os embates serão intelectuais, é mentira. A gente tem uma coisa animal, primitiva”, explica Cláudio, que conta que eles já tentaram gravar por duas vezes eventos de vale Tudo e não foram liberados porque os organizadores acharam que eles iriam sacanear. Mas ele adverte: vai acabar rolando.
“É gostoso fazer. Se tirassem o comportamento de algumas pessoas, seria um negócio legal. Você tá aprendendo uma habilidade, tá se cuidando”, diz, sem medo de represálias dos verdadeiros Maçarandubas: “O cara para ficar puto comigo tem que se assumir como Maçaranduba”.
PÔ!
Terminada as formalidades, incluindo tentativas de realizar uma entrevista séria – o que não é nada fácil – perguntei se seria possível o humorista encarnar o personagem e responder à La Maçaranduba. A resposta foi um clássico: “Se não tiver perguntas que duvidem da minha masculinidade. Senão, vou dar porrada!
TATAME: Onde você nasceu?
MAÇARANDUBA: Fui achado na porta de uma academia. Ninguém sabe de onde vim.
T: Você foi criado por quem?
M: Por lutadores selvagens, na Selva.
T: E como foi sua infância?
M: Foi boa. Apanhei muito
T: Quando você começou a se interessar por lutas?
M: Já nasci interessado. Só não digo que é genética e DNA, porque isso não é coisa de macho.
T: Como é o seu dia?
M: Acordo, dou umas porradas, tomo café, dou umas porradas, saio na rua, dou umas porradas, chego na academia e dou umas porradas e, para completar o dia, antes de dormir, dou umas porradas.
Aproveitei a chegada do Montanha, amigo inseparável do Maçaranduba, para esclarecer, de uma vez por todas, um assunto que vem intrigando dez entre dez lutadores de jiu-jitsu
T: Rola um boato que você e o Maçaranduba seriam a dupla dinâmica (Batman e Robin) do Jiu-Jitsu. É sério?
MONTANHA: Essa relação é espada, e se você estiver duvidando da nossa masculinidade, vai entrar na porrada
T: Só mais uma coisa, como você se define?
MONTANHA: Sou o escudeiro do Maçaranduba. Sou o cérebro dele, penso por ele.
CASSETA E PLANETA, URGENTE!
GANGUES! Assim são chamados, hoje em dia, os lutadores de jiu-jitsu. É isso que andam ensinando nas academias? O que fizeram com a filosofia da Arte ensinada com maestria por mais de 70 anos? Na entrevista que fiz com o casseta Cláudio Manoel, o humorista deixou de rir, e de fazer rir, para comentar sobre a atual utilização das Artes Marciais. É bom para todos pensarem se é isso o que querem, se é assim que nutrem a “doce ilusão” de chegar a algum lugar. Principalmente aqueles que fazem das lutas seu meio de sobrevivência.
“É grave porque enquanto as pessoas estão discutindo, tem alguém sendo dilacerado, mutilado. Pode ser você, seu filho, pode ser qualquer um. As pessoas devem ver que estão mexendo com uma coisa séria. Acho que os profissionais do esporte e do setor - hoje você tem academias, revistas - devem ficar cada vez mais atentos à isso, porque se é, e eu concordo que seja, uma distorção, um mal uso do que a pessoa aprende, essas pessoas diretamente interessadas na sobrevivência e boa imagem do esporte devem coibir isso. Você deve ter uma atuação junto as autoridades porque acho que já passou do limite do bom senso”, disse Cláudio Manoel.
Tatame ano 5 # 38
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