Mais evidências de fraude no caso do ‘libelo de sangue’ Al Durah
É cada vez mais difícil a situação da TV France 2, que sustentou a encenação
Melanie Phillips*
Finalmente no dia 14/11/2007 foi feita a apresentação do video da TV francesa France2 que contém a filmagem do episódio Al Durah e que a emissora nunca quis mostrar. Em síntese, o filme estava cortado em 9 minutos, não continha nenhuma prova de que os tiros que mataram o garoto vieram de soldados israelenses e, pelo contrário, indica que tudo não passou mesmo de uma grande montagem feita para acusar Isarel. O final da sessãao, no Palácio da Justiça, em Paris, foi conturbado com muitas pessoas vaiando o jornalista que deu origem a tudo isso, Charles Enderlin, ainda por cima um judeu.
Apesar das múltiplas contradições, a mídia ocidental inquestionavelmente engoliu esta estória porque ela atribuiu um assassinato preconceituoso contra Israel.
É quarta-feira, 14 de novembro de 2007. Estou em Paris para assistir a uma sessão especial no Tribunal de Recursos convocada para testemunhar os 27 minutos das imagens até então inéditas da "morte" de Mohammed Al Durah que o tribunal havia exigido que a France 2 mostrasse. Alguns leitores estão familiarizados com este escândalo, outros não, mas muito já foi escrito sobre ele.
Basta dizer aqui que a imagem icônica do menino Mohammed Al Durah, que na fotografia aparece curvado às costas do pai, atrás de um barril ao lado de um muro de concreto, aparentemente numa vã tentativa de protegê-lo contra uma batalha armada entre Israel e os palestinos, que era intensa em torno deles. Alegou-se em função disso que ele fora morto por tiros dos israelenses, o que serviu para incitar a violência e as atrocidades terroristas em todo o mundo depois que a reportagem foi transmitida pela France 2, no início da segunda Intifada. Entretanto, fica evidente para qualquer pessoa que veja isto em detalhes, que tudo foi uma encenação, e não menos devastadora a prova mostrada na fita com o rapaz levantando seu braço e espreitando através dos seus dedos da mão segundos depois do correspondente da France 2, Charles Enderlin, dizer que ele tinha sido morto a tiros.
Depois, Philippe Karsenty, fundador da vigilância online da francesa, a Media Ratings, acusou a France 2 de encenar a ‘morte’ de Al Durah e pediu a demissão de ambos, do jornalista Charles Enderlin e da diretora do noticiário da TV France 2, Arlette Chabot. A France 2 e Enderlin haviam processado Karsenty por difamação, e ganharam. Numa infame peça judiciária de desnecessária parcialidade após a intervenção do então presidente francês Jacques Chirac, o tribunal decidiu contra Karsenty e em favor da France 2 e de Enderlin. Karsenty recorreu, e o juiz ordenou à France 2 que apresentasse a totalidade da metragem do filme que nunca fora exibido, sobre aquele incidente; hoje isso foi feito.

Bem, mais ou menos. O que realmente exibiram foram 18 minutos do total de 27 que a TV foi obrigada a apresentar. A partir desta metragem, que, segundo o cameraman palestino da France 2 filmara durante improváveis 45 minutos de tiroteio contínuo por soldados israelenses, não há provas de que alguém tenha sido morto ou mesmo ferido — incluindo Mohammed Al Durah que até o final dos frames (quadros de imagem) do filme aparece bem vivo e sem marcas de quaisquer ferimentos.
O drama da audiência de hoje foi reforçado pelo aparecimento do próprio Enderlin, que até hoje não tinha dado o ar da graça neste caso. Como o filme fora exibido para uma embalada e quente (em todos os sentidos) sala de audiências, Enderlin e Karsenty ofereceram interpretações rivais das imagens na tela. Se Enderlin pensou que poderia, assim, demonstrar a insuficiência de Karsenty no caso, ele estava muito enganado. Pelo contrário, partes de seus comentários foram tão absurdas que a sala tribunal várias vezes irrompeu em risos de descrença.
Enderlin ofereceu apenas um vago, incoerente e pouco convincente explicação da razão pela qual ele tinha apenas apresentado 18 minutos do vídeo, e não os 27 minutos, que alegou ter recebido do seu cameraman em Gaza (o próprio Enderlin não estava em Gaza, quando os acontecimentos ocorreram). Após a audiência, o professor Richard Landes, uma das pessoas que já haviam visto a controvertida metragem, disse que duas cenas haviam sido cortadas, demonstrando claramente que a violência tinha sido encenada — incluindo aquela em que um palestino se prepara para arremessar um míssil é, de repente, levado e transportado para uma ambulância apesar de não mostrar sinais de ferimentos. Esta cena, disse Landes, era da Reuters, mas na verdade fora filmada pelo cameraman da France 2. Contudo, não há mais qualquer vestígio dela atualmente.
O que me surpreendeu bastante a respeito dos 18 minutos, sobretudo, foi o fato de que, embora se suponha que tenha sido filmado durante o contínuo disparo pelos israelenses durante 45 minutos, uma grande parte da fita consistia apenas numa violenta demonstração de jovens atirando pedras, muitos dos quais pareciam divertir-se muito com o exercício. Uma criança foi mostrada andando de bicicleta através do campo de luta. Não há evidência alguma de que qualquer um deles tenha sido morto ou ferido. De vez em quando, para assegurar a encenação, jovens erram arrastados para as macas e daí para ambulâncias -- mas não havia nenhum sinal de quem realmente tinha sido atingido, nenhum caído sob o fogo, nenhum sinal de sangue ou quaisquer ferimentos. O mais próximo disto foi uma seqüência em que um jovem envergonhadamente puxa a camisa e a abre um pouco de modo a oferecer um vislumbre de um perfeito círculo vermelho em sua barriga, que segundo ele foi um ferimento à bala (de borracha?). Porém, uma vez que ele parecia estar sem nenhuma dor e havia sorrisos em toda a sua volta para a câmara, isto parecia um modo altamente improvável se comportar para alguém que tinha acabado de ser atingido por uma arma de fogo.
Havia muito mais coisas bem estranhas neste vídeo, que não tinham sido mencionados. Quando o filme chegou ao ponto do "assassinato" de Mohammed Al Durah, destaca-se o seguinte:
* A seqüência não foi uma narrativa contínua, mas foi repetidamente quebrada e juntada em trechos de outras cenas da manifestação (com pedras);
* Embora o cameraman da TV France 2 tenha dito à produtora cinematográfica alemã, Esther Shapira, que filmara seis minutos dos Al Durah pai e filho sob fogo contínuo israelense, o trecho filmado deles dura menos de um minuto;
* Havia uma câmera com tripé ao lado deles;
* Não houve qualquer evidência de que o rapaz realmente tenha sido atingido;
* Em certo ponto do filme, pessoas na multidão gritam que o menino estava morto, enquanto ele, de forma inconfundível, se encontrava agachado e agarrado junto ao pai e com a boca bem aberta;
* Depois que ele foi dado como morto, ele moveu seu braço (a seqüência que já relatei e que está disponível na internet há anos).
O Tribunal de Recursos não deve dar o seu veredicto sobre este caso até fevereiro próximo. Mas a partir de hoje, tais são as novas contradições e as questões levantadas pela apresentação que este filme mostra — e pelo qual a France 2 se colocou num beco de onde vai ter cada vez mais dificuldades de escapar.
Mas este escândalo vai muito além da TV France 2. Pouco depois que ela transmitiu os 55 segundos que revelavam a "morte" de Mohammed Al Durah, ela bondosamente enviou a várias agências de notícias três minutos do filme deste incidente -- incluindo as cenas em que a criança ‘morta’ é vista se movendo, mas que evidentemente ela não tinha transmitido. Por razões que convidam à especulação, nenhuma dessas agências tampouco divulgou as cenas. Se o tivessem feito, não teria havido como "matar" Mohammed Al Durah e incontáveis mortes subseqüentes teriam sido evitadas.
Assim, não é de surpreender, mas não menos chocante, que, com uma dupla de exceções heróicas, a grande mídia tenha ignorado até bem recentemente as provas que sugerem que uma monumental e mortal fraude foi perpetrada aqui, e que os indicadores giravam em torno há anos. Assim como agora, o caso Karsenty tem sido totalmente ignorado pela grande mídia francesa. Também é profundamente preocupante que o governo de Israel tenha ignorado essa prova durante sete anos, e só muito recentemente é que a sua porta-voz de imprensa Danny Seaman disse que o incidente fora forjado, e que até hoje alguns representantes do governo israelense estejam desempenhando um papel bem ambíguo na defesa de seu país contra esta moderna versão do libelo de sangue.
A 'morte' de Mohammed Al Durah foi engolida inquestionavelmente pela mídia ocidental, apesar das múltiplas contradições que estavam evidentes desde o início, porque ele atribui um ‘assassinato’ preconceituoso contra Israel, que é o prisma através do qual o conflito do Médio Oriente costuma ser visto. Este escândalo tem a mais profunda das implicações não apenas para a mídia, não apenas para o conflito do Médio Oriente, mas também para as relações do mundo ocidental com a razão, que parecem crescer dia após dia de maneira muito frágil.
21 de maio de 2008:
A corte decide em
favor de Philippe Karsenty
Em 21 de maio de 2008, numa formidável reviravolta do
veredicto da primeira instância, a decisão da apelação foi transmitida. Ela
citou “as respostas contraditórias dadas por Charles Enderlin às perguntas
relacionadas com a edição do filme”, as “inexplicáveis inconsistências das
imagens visíveis”, e as “respostas contraditórias do [cinegrafista Talal Abu
Rahma] com respeito à seqüência das cenas e às condições nas quais tinham sido
filmadas”. Também observou a “persistente relutância de France 2 de permitir
que se vissem as cópias do seu cinegrafista” e a “imprudente alegação de que
tinha suprimido as imagens da agonia da criança” feita por Enderlin.
Enquanto a corte não podia dizer que Karsenty tinha provado
definitivamente a transmissão de uma fraude, ela achou que havia uma
“suficiente base factual” para as acusações que ele tinha feito. A corte de
apelação derrotou, portanto, o julgamento da corte de primeira instância e
concluiu que “Philippe Karsenty exerceu seu direito de livre crítica, feita de
boa fé; e que ao fazê-lo não ultrapassou os limites da liberdade de Expressão”.
Atualização – junho-julho de
2008: Repercussão
Centenas de jornalistas franceses – amigos e colegas de
Enderlin – junto com muitas “personalidades” francesas e leitores da internet,
enviaram uma petição de apoio a Charles Enderlin no Web site da revista semanal
Nouvel Observateur. Ele foi
caracterizado como a vítima de uma “obstinada e odiosa campanha para manchar
sua dignidade profissional”. A petição dizia que estavam impressionados pelo
fato de que a corte “outorgasse a mesma credibilidade a um jornalista conhecido
por seu trabalho sério e rigoroso, que exercia sua profissão sob condições
algumas vezes difíceis, e aos seus detratores, empenhados numa campanha de
negação e descrédito, que ignoravam as realidades do terreno e que não tinham
experiência na cobertura jornalística desde uma zona de conflito”.
Mas muitos jornalistas e personalidades francesas
romperam com os signatários da petição, condenando-a e/ou pedindo para se fazer
uma investigação. Entre esses estavam o colunista do Figaro Ivan Riofoul e Elie Barnavi, um historiador e ex-embaixador
de Israel na França.
O Conselho Representativo das Instituições Judaicas da
França (CRIF) fez uma conferência de prensa na qual pediu ao presidente francês
Nicolas Sarkozy a formação de uma comissão de investigação independente sobre o
tema Al Dura. Entretanto, a comissão “independente” proposta pelo CRIF incluía
o canal France 2 bem como o próprio CRIF.
http://cifwatch.com/2010/10/22/the-al-dura-hoax-and-a-true-hero-of-our-time/
* Melanie Phillips é jornalista e escreveu o presente artigo para a revista inglesa
Spectator-UK. Ela foi uma pessoas convocadas para assistir a exibição, em audiência pública na justiça francesa, do filme que a TV France 2 negava-se a mostrar desde que o rumoroso caso foi denunciado como uma farsa para prejudicar a imagem de Israel no mundo. Melanie Phillips publicou também o texto, no original em inglês, em seu
website (/www.melaniephillips.com). Agradecemos a indicação deste material ao leitor do Visão Judaica Abraham Bohadana, que morou em Curitiba e hoje vive na França.
http://www.visaojudaica.com.br/Dezembro2007/artigos/3.html